Acordei, levantei da cama, abri a cortina e deixei o sol entrar. Acordei de ilusões que eu criei quase sozinha, levantei da cama que nunca foi nossa, a luz entrou e devolveu a vida que não entrava naquele quarto há anos. Torci meu travesseiro e deixei escorrer anos de noites mal dormidas, de planos não realizados, de saudade de você. Como quem tava a tempo demais no escuro e, de repente, se depara... com uma luz muito forte, me doeu os olhos, mas logo me curei. Não tive tempo de pensar no que se foi, no que não chegou a ser ou no que poderia ter sido. Arrumei a cama, tinha visita. E perfumei o quarto, decorei, me refiz. É outono e quem diria? Deixei meu velho amor ser varrido junto com as folhas da estação. Tão clichê quanto minha espera eterna e inútil, nosso filme travado no replay, tuas desculpas sem culpa, ditas por obrigação e não pra se redimir. Deixei varrer porque não nascia flor a muito tempo, não é? Você sabe, você quem parou de regar. Sempre economizou água e o amor foi crescendo sozinho, se alimentando de mim. Mas agora tá voando pelo chão e eu tenho visita. Não me liga, por favor. Me poupe dessa reviravolta de querer tudo que eu sempre quis tanto te oferecer, só porque agora tô oferecendo pra outro. Você sempre me deixou pra depois, mas agora não tem mais depois, porque sou presente de um outro alguém. Presente em todos os sentidos, presente que você nunca chegou a abrir completamente, por falta de coragem ou interesse. Mas já não importa, porque daqui a pouco chega minha visita e eu não tenho tempo pra te explicar o que você nunca quis ouvir. Sempre fugiu e agora quer ficar? Não confio em quem não sabe o que quer. Queria o mundo e agora quer a mim, só porque arrumei a cama. Disse que te amava e você pediu pra eu não repetir, agora quer meu colo como abrigo? Não sou casa pra covardia, não tenho tempo pra gente mal resolvida, já sou peso demais pra mim. Enfim, agora me dá licença, a campainha tá tocando e eu preciso ser feliz. Tudo claro, calmo, tudo novo. Recomecei, me zerei, deixei entrar e, principalmente, sair. Você sempre quis o mundo, agora tem, sem ninguém disputando espaço. Tá achando pouco? Sempre fez questão, sempre quis tanta opção e agora, eu finalmente, te libertei, sem nunca ter te prendido. Devia estar feliz. Só me deixa também, sem bater na porta, pra não sentir o gosto de ser atendido por um outro alguém. Meu novo alguém. Fica bem. Fim.
Caramba... excelente texto! Gostei, e muito! Chega a ser visceral. Um tapa com luva de pelica. Parabéns.
ResponderExcluirUm Sorriso
*_*
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